22.10.06
O Exemplo dos Galicismos do Eça e o dos Anglicismos do Futebol. Dois Casos de Estudo.
Tinha pensado escrever hoje sobre um tema que, de há algumas semanas para cá, tem surgido na Comunicação Social, quanto a mim, de uma forma assaz leviana, quando não mesmo asnática, denunciando uma geral falta de atenção e de rigor da parte dos diversos autores que o têm abordado. Trata-se de um tema que já aqui mesmo «tratei» várias vezes : o das relações luso-espanholas, no contexto actual da nossa comum pertença a um alargado espaço político-económico que é o da União Europeia.
Não quereria, no entanto fazê-lo, dada a sua particular delicadeza, sem concluir a última série de artigos sobre a presente moda, quase obsessão, dos anglicismos na linguagem dos portugueses.
Reconheço que pode haver casos em que nos seja especialmente difícil fugir à sua utilização. Há inovações tecnológicas que os impõem como uma inevitabilidade, pelo menos temporária. Por exemplo, como traduzir apropriadamente «software» ? Programação informática, além de não ser exacto, obriga à multiplicação vocabular, problema sempre presente quando se pretende traduzir do inglês, idioma por natureza conciso, mais ainda, provavelmente, passe a pretensão da erudição, que o latim.
O mesmo poderíamos dizer de muitos outros termos ingleses de difícil tradução exacta. Mas isso não deveria impedir-nos de, esforçadamente, procurarmos sempre encontrar os seus equivalentes em português vernáculo.
Primeiro, porque tal esforço decorre de uma curial obrigação de um qualquer falante natural do português para com o seu património linguístico. É nosso dever sumário falar a nossa língua com correcção. Já não vou daqui à famosa frase do Eça que nos aconselhava a falar patrioticamente mal qualquer língua estrangeira.
De resto, isto não era mais do que uma sua blague, galicismo muito do seu agrado, como muitos outros, desde o blasé, ao ennui, ao négligé, ao outrance, ao vol d’oiseau, ao malgré lui, ao demi-monde, ao bas-fond, ao avant la lettre, ao buffet, ao boudoir, ao bouquet, ao cliché, ao couché, ao coupé, ao degagé, ao élite, ao frappé, ao frisson, ao frondeur, ao gavroche, ao divertisssement, ao pot-pourri, ao première, ao matinée, ao soirée, ao poseur, ao pourboire, ao ouverture, ao rendez-vous, ao régie, ao souvenir, ao tête-à-tête, ao tableau, ao tournée, ao soustien-gorge, ao tounure, ao nuancée, ao charme, ao délicatesse, ao parvenu, ao passe-partout, ao joie-de-vivre, ao débâcle, ao déjà vu, ao noblesse oblige, etc., etc.
Tudo isto mereceria um estudo dedicado, como Campos Matos tem feito com as citações de Eça e o uso, por parte deste, de expressões latinas, na mais recente obra que aquele devotado estudioso da obra do grande Mestre da Literatura Portuguesa, notável criador do português moderno, aquele em que, hoje ainda, quase todos nós nos exprimimos.
Daqueles galicismos típicos do Eça, já quase ninguém faz uso, nem na forma literária. Dirão alguns que o mesmo sucederá, provavelmente, com os actuais anglicismos. Infelizmente, não estarei tão optimista, porque a preocupação com a compostura do idioma deixou de ser uma prioridade dos nossos concidadãos. Nem os Professores já se incomodam com isso, na sua propensão para desculpar tudo o que os alunos fazem de errado.
Certos Professores, até já se sentem embaraçados em classificar expressões utilizadas pelos alunos como erradas, tão fundo chegou a inibição. Lembremo-nos do que se passou em 2001, com a edição do Dicionário do Português Contemporâneo, produzido sob a chancela da Academia das Ciências de Lisboa, com o generoso subsídio da Fundação Calouste Gulbenkian, que, finalmente nos tirou da ignomínia de mais de 200 anos, desde que a primeira tentativa de elaboração do Dicionário da Academia havia parado no vocábulo «azurrar». Por pilhéria, dizia-se que os Académicos se haviam por aí ficado, conjungando colectivamente esse verbo de forte sonoridade.
Pois bem, dessa vergonha finalmente nos libertámos, mas com essa libertação veio também a incoerência do espírito da presente época, com o nefando pensamento politicamente correcto, que, paralisado ante a incapacidade de assinalar o erro, absolveu, sancionou ou abrigou muitos termos incorrectos, espúrios, como o «bué», ao mesmo tempo que ignorava imensos outros, como «asinha», por ex., que continuam, no vasto património da língua, a ser utilizados por artistas e escritores, sendo necessário conhecê-los para compreender textos dos séculos XX e XIX e, ainda mais, para poder chegar aos dos séculos anteriores.
Ao uso dos galicismos correspondeu uma época de hegemonia da cultura francesa, como agora ao dos anglicismos corresponde o de uma outra hegemonia, não inglesa, mas americana. O problema é que esta só nas áreas científicas e tecnológicas se destaca como de categoria igual ou superior à da média europeia. Nas outras, não.
E, se avaliarmos a sua cultura de exportação, a que é veiculada pelo Cinema, pela TV e, em geral, pelo mundo do audio-visual, teremos de considerar que quase nada daquilo que hoje vem dos EUA vale um pataco, mas apenas gera embrutecimento e alienação, que nos EUA já produziu estragos extensos e duradouros; na Europa, causará, com toda a probabilidade, o mesmo nocivo efeito. Este mal é de tal modo profundo e avassalador que, nos EUA, acabou por prejudicar a selecção de candidatos para o exercício do poder, no ponto mais alto da hierarquia do Estado. Como o paradigma americano tende a reflectir-se, passado pouco tempo de qualquer das suas manifestações, pelo mundo inteiro, em primeiro lugar, na Europa, teme-se, compreensivelmente, que o mesmo tipo de fenómeno se venha a registar aqui por estas - outrora - mais selectas paragens.
Estas amenas considerações não dimanam de nenhuma desafeição pela Cultura Norte-Americana, mas resulta tão-só da natural comprovação da sua grandemente imprestável produção actual, a sua dita cultura de massas, que tantos adeptos tem conquistado no mundo inteiro, incluindo na nossa Europa, onde já floresceram tipos bem mais interessantes de cultura, em qualquer área que se queira nomear.
Mais uma razão para a nossa prevenção, quanto à utilização de modas e paradigmas, só pelo facto de haverem sido cunhados além-fronteiras. Assim como fomos eliminando os galicismos, também deveremos começar a evitar e a substituir gradualmente os anglicismos por termos próprios da nossa língua, como passo elementar da defesa da nossa dignidade como Povo antigo, soberano, com uma personalidade cultural longamente afirmada.
Para os que pensam que isto é utopia, recordaria o que se passou aí pelos anos 30 do século XX, com um tema eminentemente popular – o Futebol/Football – de onde, com persistência e determinação, se apagaram os termos ingleses, como referee/árbitro, forward-centre/avançado-centro, goal-keeper/guarda-redes, back/defesa, middle-center/meio-campista, liner/fiscal de linha, half-back/meio-defesa, free-kick/livre directo, corner/canto, etc., etc.
Algum pundonor e alguma imaginação de uns quantos determinados pioneiros operaram a transformação da linguagem inicial, completamente ligada ao idioma da origem deste desporto de massas. Se isto foi possível, numa época de muito baixa escolaridade da população portuguesa, porque não acreditar que seja também hoje possível idêntico esforço vitorioso noutros áreas da vida quotidiana actual ?
Deixo esta pergunta à consciência cívica dos meus compatriotas e prometo vir a ocupar-me muito em breve do magno tema das relações luso-espanholas ou das relações entre Portugal e as diversas sensibilidades culturais peninsulares, sendo certo que Portugal deve privilegiar as relações com Espanha, num quadro de respeito mútuo pela soberania de dois dos Estados mais antigos da Europa.
AV_Lisboa, 22 de Outubro de 2006
Não quereria, no entanto fazê-lo, dada a sua particular delicadeza, sem concluir a última série de artigos sobre a presente moda, quase obsessão, dos anglicismos na linguagem dos portugueses.
Reconheço que pode haver casos em que nos seja especialmente difícil fugir à sua utilização. Há inovações tecnológicas que os impõem como uma inevitabilidade, pelo menos temporária. Por exemplo, como traduzir apropriadamente «software» ? Programação informática, além de não ser exacto, obriga à multiplicação vocabular, problema sempre presente quando se pretende traduzir do inglês, idioma por natureza conciso, mais ainda, provavelmente, passe a pretensão da erudição, que o latim.
O mesmo poderíamos dizer de muitos outros termos ingleses de difícil tradução exacta. Mas isso não deveria impedir-nos de, esforçadamente, procurarmos sempre encontrar os seus equivalentes em português vernáculo.
Primeiro, porque tal esforço decorre de uma curial obrigação de um qualquer falante natural do português para com o seu património linguístico. É nosso dever sumário falar a nossa língua com correcção. Já não vou daqui à famosa frase do Eça que nos aconselhava a falar patrioticamente mal qualquer língua estrangeira.
De resto, isto não era mais do que uma sua blague, galicismo muito do seu agrado, como muitos outros, desde o blasé, ao ennui, ao négligé, ao outrance, ao vol d’oiseau, ao malgré lui, ao demi-monde, ao bas-fond, ao avant la lettre, ao buffet, ao boudoir, ao bouquet, ao cliché, ao couché, ao coupé, ao degagé, ao élite, ao frappé, ao frisson, ao frondeur, ao gavroche, ao divertisssement, ao pot-pourri, ao première, ao matinée, ao soirée, ao poseur, ao pourboire, ao ouverture, ao rendez-vous, ao régie, ao souvenir, ao tête-à-tête, ao tableau, ao tournée, ao soustien-gorge, ao tounure, ao nuancée, ao charme, ao délicatesse, ao parvenu, ao passe-partout, ao joie-de-vivre, ao débâcle, ao déjà vu, ao noblesse oblige, etc., etc.
Tudo isto mereceria um estudo dedicado, como Campos Matos tem feito com as citações de Eça e o uso, por parte deste, de expressões latinas, na mais recente obra que aquele devotado estudioso da obra do grande Mestre da Literatura Portuguesa, notável criador do português moderno, aquele em que, hoje ainda, quase todos nós nos exprimimos.
Daqueles galicismos típicos do Eça, já quase ninguém faz uso, nem na forma literária. Dirão alguns que o mesmo sucederá, provavelmente, com os actuais anglicismos. Infelizmente, não estarei tão optimista, porque a preocupação com a compostura do idioma deixou de ser uma prioridade dos nossos concidadãos. Nem os Professores já se incomodam com isso, na sua propensão para desculpar tudo o que os alunos fazem de errado.
Certos Professores, até já se sentem embaraçados em classificar expressões utilizadas pelos alunos como erradas, tão fundo chegou a inibição. Lembremo-nos do que se passou em 2001, com a edição do Dicionário do Português Contemporâneo, produzido sob a chancela da Academia das Ciências de Lisboa, com o generoso subsídio da Fundação Calouste Gulbenkian, que, finalmente nos tirou da ignomínia de mais de 200 anos, desde que a primeira tentativa de elaboração do Dicionário da Academia havia parado no vocábulo «azurrar». Por pilhéria, dizia-se que os Académicos se haviam por aí ficado, conjungando colectivamente esse verbo de forte sonoridade.
Pois bem, dessa vergonha finalmente nos libertámos, mas com essa libertação veio também a incoerência do espírito da presente época, com o nefando pensamento politicamente correcto, que, paralisado ante a incapacidade de assinalar o erro, absolveu, sancionou ou abrigou muitos termos incorrectos, espúrios, como o «bué», ao mesmo tempo que ignorava imensos outros, como «asinha», por ex., que continuam, no vasto património da língua, a ser utilizados por artistas e escritores, sendo necessário conhecê-los para compreender textos dos séculos XX e XIX e, ainda mais, para poder chegar aos dos séculos anteriores.
Ao uso dos galicismos correspondeu uma época de hegemonia da cultura francesa, como agora ao dos anglicismos corresponde o de uma outra hegemonia, não inglesa, mas americana. O problema é que esta só nas áreas científicas e tecnológicas se destaca como de categoria igual ou superior à da média europeia. Nas outras, não.
E, se avaliarmos a sua cultura de exportação, a que é veiculada pelo Cinema, pela TV e, em geral, pelo mundo do audio-visual, teremos de considerar que quase nada daquilo que hoje vem dos EUA vale um pataco, mas apenas gera embrutecimento e alienação, que nos EUA já produziu estragos extensos e duradouros; na Europa, causará, com toda a probabilidade, o mesmo nocivo efeito. Este mal é de tal modo profundo e avassalador que, nos EUA, acabou por prejudicar a selecção de candidatos para o exercício do poder, no ponto mais alto da hierarquia do Estado. Como o paradigma americano tende a reflectir-se, passado pouco tempo de qualquer das suas manifestações, pelo mundo inteiro, em primeiro lugar, na Europa, teme-se, compreensivelmente, que o mesmo tipo de fenómeno se venha a registar aqui por estas - outrora - mais selectas paragens.
Estas amenas considerações não dimanam de nenhuma desafeição pela Cultura Norte-Americana, mas resulta tão-só da natural comprovação da sua grandemente imprestável produção actual, a sua dita cultura de massas, que tantos adeptos tem conquistado no mundo inteiro, incluindo na nossa Europa, onde já floresceram tipos bem mais interessantes de cultura, em qualquer área que se queira nomear.
Mais uma razão para a nossa prevenção, quanto à utilização de modas e paradigmas, só pelo facto de haverem sido cunhados além-fronteiras. Assim como fomos eliminando os galicismos, também deveremos começar a evitar e a substituir gradualmente os anglicismos por termos próprios da nossa língua, como passo elementar da defesa da nossa dignidade como Povo antigo, soberano, com uma personalidade cultural longamente afirmada.
Para os que pensam que isto é utopia, recordaria o que se passou aí pelos anos 30 do século XX, com um tema eminentemente popular – o Futebol/Football – de onde, com persistência e determinação, se apagaram os termos ingleses, como referee/árbitro, forward-centre/avançado-centro, goal-keeper/guarda-redes, back/defesa, middle-center/meio-campista, liner/fiscal de linha, half-back/meio-defesa, free-kick/livre directo, corner/canto, etc., etc.
Algum pundonor e alguma imaginação de uns quantos determinados pioneiros operaram a transformação da linguagem inicial, completamente ligada ao idioma da origem deste desporto de massas. Se isto foi possível, numa época de muito baixa escolaridade da população portuguesa, porque não acreditar que seja também hoje possível idêntico esforço vitorioso noutros áreas da vida quotidiana actual ?
Deixo esta pergunta à consciência cívica dos meus compatriotas e prometo vir a ocupar-me muito em breve do magno tema das relações luso-espanholas ou das relações entre Portugal e as diversas sensibilidades culturais peninsulares, sendo certo que Portugal deve privilegiar as relações com Espanha, num quadro de respeito mútuo pela soberania de dois dos Estados mais antigos da Europa.
AV_Lisboa, 22 de Outubro de 2006
Comments:
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Na generalidade, concordo com o António Viriato.
Mas julgo que deve haver algum cuidado na apreciação do uso do inglês.
Para clarificar a minha posição, devo começar por dizer que já escrevi um artigo na revista da Ordem dos Engenheiros e numa outra revista empresarial, em que defendi a adopção do inglês como segunda língua oficial do nosso país.
E continuo convencido da correcção desta proposta, que constituiria um acto de coragem e um verdadeiro exemplo perante outros povos que não se libertam dos seus chauvinismos.
Conforme então escrevi, o inglês impôs-se de uma forma natural na ciência, na tecnologia, nos mercados financeiros, na música, no cinema, na informática e em quase todas as áreas do conhecimento, por se tratar da língua daqueles que tiveram a sorte e a lucidez de se afastar de uma instituição religiosa que impunha concepções arrevesadas do universo e que queimava cientistas nas fogueiras.
Mercê dessa circunstância, que abriu caminho ao domínio da energia e à revolução industrial, os ingleses tomaram as rédeas da inovação e do desenvolvimento e promoveram a sua língua em todo o planeta. Um mérito que devemos reconhecer com toda a objectividade. E fair-play ...
Apesar de o inglês ser uma língua anglo-saxónica, a verdade é que incorpora cerca de 50% de palavras de origem latina, introduzidas pelos Normandos que, liderados por Guilherme, o Conquistador, tomaram conta da ilha em 1066 e impuseram o francês como língua oficial do país.
O seu domínio, no entanto, não conseguiu eliminar o inglês. Durante cerca de trezentos anos coexistiram duas línguas em Inglaterra : o francês, falado e escrito na corte e nas instituições oficiais, e o inglês, falado pelo povo e praticamente reduzido à sua expressão oral. Nestas circunstâncias a velha língua dos anglos e dos saxões sofreu profundas simplificações, com a redução drástica ou a pura eliminação das declinações e das conjugações verbais que ainda persistiam, tornando o inglês uma língua muito mais acessível do que as línguas latinas.
Aliás, julgo que os nossos miúdos teriam toda a vantagem no ensino comparado das duas línguas, a fim de poderem observar a semelhança de muitos vocábulos, a denotar uma origem comum. Umas mais evidentes, como “action” e “acção”. Outras menos, como “kernel” e “cerne” (o cerne da questão). E outras surpreendentes, como “inferno” e “inferno”, porque em inglês “hell” também se diz “inferno”!
Enfim, mais tarde ou mais cedo os mais de seis mil milhões de habitantes do planeta Terra têm de se entender numa língua comum. O inglês é a língua em melhores condições para desempenhar esse papel.
Um abraço
Jorge Oliveira
Mas julgo que deve haver algum cuidado na apreciação do uso do inglês.
Para clarificar a minha posição, devo começar por dizer que já escrevi um artigo na revista da Ordem dos Engenheiros e numa outra revista empresarial, em que defendi a adopção do inglês como segunda língua oficial do nosso país.
E continuo convencido da correcção desta proposta, que constituiria um acto de coragem e um verdadeiro exemplo perante outros povos que não se libertam dos seus chauvinismos.
Conforme então escrevi, o inglês impôs-se de uma forma natural na ciência, na tecnologia, nos mercados financeiros, na música, no cinema, na informática e em quase todas as áreas do conhecimento, por se tratar da língua daqueles que tiveram a sorte e a lucidez de se afastar de uma instituição religiosa que impunha concepções arrevesadas do universo e que queimava cientistas nas fogueiras.
Mercê dessa circunstância, que abriu caminho ao domínio da energia e à revolução industrial, os ingleses tomaram as rédeas da inovação e do desenvolvimento e promoveram a sua língua em todo o planeta. Um mérito que devemos reconhecer com toda a objectividade. E fair-play ...
Apesar de o inglês ser uma língua anglo-saxónica, a verdade é que incorpora cerca de 50% de palavras de origem latina, introduzidas pelos Normandos que, liderados por Guilherme, o Conquistador, tomaram conta da ilha em 1066 e impuseram o francês como língua oficial do país.
O seu domínio, no entanto, não conseguiu eliminar o inglês. Durante cerca de trezentos anos coexistiram duas línguas em Inglaterra : o francês, falado e escrito na corte e nas instituições oficiais, e o inglês, falado pelo povo e praticamente reduzido à sua expressão oral. Nestas circunstâncias a velha língua dos anglos e dos saxões sofreu profundas simplificações, com a redução drástica ou a pura eliminação das declinações e das conjugações verbais que ainda persistiam, tornando o inglês uma língua muito mais acessível do que as línguas latinas.
Aliás, julgo que os nossos miúdos teriam toda a vantagem no ensino comparado das duas línguas, a fim de poderem observar a semelhança de muitos vocábulos, a denotar uma origem comum. Umas mais evidentes, como “action” e “acção”. Outras menos, como “kernel” e “cerne” (o cerne da questão). E outras surpreendentes, como “inferno” e “inferno”, porque em inglês “hell” também se diz “inferno”!
Enfim, mais tarde ou mais cedo os mais de seis mil milhões de habitantes do planeta Terra têm de se entender numa língua comum. O inglês é a língua em melhores condições para desempenhar esse papel.
Um abraço
Jorge Oliveira
Em jeito de réplica :
O facto de considerarmos um idioma, no caso, o inglês, como mais apto que qualquer outro a desempenhar o papel de «lingua franca» da Comunicação entre os Povos da Terra, não significa que tenhamos de descurar o estudo e o culto da nossa Língua-Mãe, aquela em que ficou vazada a nossa identidade cultural, como povo singular entre os demais. É aqui que coloco a minha ênfase na questão.
Se desprezarmos a nossa Língua, arrastaremos, com essa atitude de desleixo, um progressivo apagamento da nossa identidade cultural, porque esta assenta naquela e dificilmente sobreviverá, como Língua de Cultura, pelo menos na Europa, se os seus falantes se deixarem fascinar por uma outra qualquer, que pode até nem vir a ser o inglês, mas o castelhano, por via de um domínio económico que, a prazo, pode conduzir a uma tutela política, mais ou menos aberta, mais ou menos velada, mas real.
Bom, mas, na verdade, este assunto já entronca num tema que eu anunciei para próximo artigo, que requer algum espaço para desenvolver argumentação adequada.
Obrigado, amigo Jorge, pelo teu oportuno e valioso contributo nesta discussão.
Para o meu amigo Pinho Cardão, direi que, infelizmente, também sei quanto pesa, na esfera profissional, a reacção à presente mania dos anglicismos e quão raros são os que a tal se atrevem.
Mas alguém tem de fazer alguma coisa, quando não, não vale a pena viver em Democracia; qualquer Ditadura, mais ou menos benigna, mais ou menos iluminada, já servirá.
Mesmo pouco, que cada um ouse fazer alguma coisa, pela Língua, como pela Social-Democracia.
Um abraço.
O facto de considerarmos um idioma, no caso, o inglês, como mais apto que qualquer outro a desempenhar o papel de «lingua franca» da Comunicação entre os Povos da Terra, não significa que tenhamos de descurar o estudo e o culto da nossa Língua-Mãe, aquela em que ficou vazada a nossa identidade cultural, como povo singular entre os demais. É aqui que coloco a minha ênfase na questão.
Se desprezarmos a nossa Língua, arrastaremos, com essa atitude de desleixo, um progressivo apagamento da nossa identidade cultural, porque esta assenta naquela e dificilmente sobreviverá, como Língua de Cultura, pelo menos na Europa, se os seus falantes se deixarem fascinar por uma outra qualquer, que pode até nem vir a ser o inglês, mas o castelhano, por via de um domínio económico que, a prazo, pode conduzir a uma tutela política, mais ou menos aberta, mais ou menos velada, mas real.
Bom, mas, na verdade, este assunto já entronca num tema que eu anunciei para próximo artigo, que requer algum espaço para desenvolver argumentação adequada.
Obrigado, amigo Jorge, pelo teu oportuno e valioso contributo nesta discussão.
Para o meu amigo Pinho Cardão, direi que, infelizmente, também sei quanto pesa, na esfera profissional, a reacção à presente mania dos anglicismos e quão raros são os que a tal se atrevem.
Mas alguém tem de fazer alguma coisa, quando não, não vale a pena viver em Democracia; qualquer Ditadura, mais ou menos benigna, mais ou menos iluminada, já servirá.
Mesmo pouco, que cada um ouse fazer alguma coisa, pela Língua, como pela Social-Democracia.
Um abraço.
Continuo a pensar que tem razão. Estudei 2 anos lectivos nos EUA, talvez os mais proveitosos em termos profissionais. Fui docente e tive sempre o cuidado de falar e escrever em Português. E traduzi várias publicações, algumas das quais muito extensas. Reconheço que tive, por vezes, grandes dificuldades na tradução para a nossa língua de alguns termos e expressões, ao ponto de ter que pedir ajuda a outros docentes. E por vezes a tradução soava mal. Nesses casos esclarecia qual era o termo na língua de origem.
Penso que somos todos moralmente obrigados a fazer um esforço sério para preservar a nossa língua.
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Penso que somos todos moralmente obrigados a fazer um esforço sério para preservar a nossa língua.
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